O Sistema Caracol de Rádio e TV é resultado da mobilização da comunidade do Aglomerado da Serra, da Associação Comunitária dos Moradores da Vila Santana do Cafezal e da organização Brigadas Populares, com o objetivo de construir um instrumento de comunicação popular. O coletivo Caracol está aberto aqueles que também acreditam na importância da comunicação feita pelo povo e para o povo.

Por que queremos outra TV?

Domingo: o dia indicado para que todos nós estivéssemos em casa, assistindo TV. Mas parece que não foi muito difícil deixar a telinha desligada; talvez porque as opções de canais não nos fazem ter orgulho em ser telespectadores.
E o que nos faz tomar essa decisão? Não é tão difícil pensar sobre isso. Crescemos vendo através da televisão um mundo repleto de definições, padrões e conceitos. De repente, começamos a olhar a nossa volta e observamos que a realidade vai muito além do que é “enquadrado” na TV. Dentro das nossas próprias comunidades e bairros há acontecimentos que muitas vezes desconhecemos. Imagine só sobre as diversas manifestações culturais, sociais e políticas que não temos acesso. É só pensar no tamanho do nosso país: uma diversidade que nem de longe consegue o espaço ideal. Uma diversidade que precisa ser informada dentro das próprias comunidades. E então pensamos: como os responsáveis pelos canais deixam tanta coisa de fora da televisão? Eles têm esse direito?
Bom, a verdade é que rádios e televisões em nosso país funcionam com concessões públicas: uma autorização dada pelo Estado, para que essas emissoras tenham direito a transmitir conteúdo pelo ar, no espectro eletromagnético, que é um bem público. Na teoria, as concessões pertencem ao conjunto da sociedade brasileira; na prática estão nas mãos de 11 famílias; uma pequena minoria que representa os interesses dos mais ricos. Eles decidem o que podemos ver, ouvir e saber, bem como o que devemos gostar e sentir. É um controle feito aos poucos, todos os dias. De acordo com a Constituição Brasileira, não podia ser assim:

Assim diz o art. 221: "a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.


É fácil notar que esses princípios não são respeitados. Como conseguir que os grandes veículos de comunicação sejam meios de informar manifestações populares espalhadas por tantos lugares? Parece inviável. Afinal, os grandes meios estão concentrados nas mãos daqueles que não querem dar espaço ao que possa ser prejudicial a eles; a nada que coloque em questão este tipo de sociedade em que vivemos. Então, já que a maioria da sociedade não tem acesso aos grandes meios, nossa alternativa é criar nossos meios. Com a nossa cara, dentro das possibilidades que temos e, o mais importante: feito por nós mesmos! Se de um lado a comunicação é, sem dúvida, um poder indispensável para o continuísmo deste tipo de sociedade, do outro, ela pode representar um instrumento para transformamos essa mesma sociedade.
E já demos o 1º passo neste domingo, fazendo uma escolha: deixamos aquela televisão; em que só temos espaço quanto telespectadores e começamos a nos organizar para produzir nossa própria televisão. (13/04/2008)

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